O documentário O Dilema das Redes (The Social Dilemma) foi um dos lançamentos Netflix mais comentados do ano. Dirigido por Jeff Orlowski e escrito por Orlowski, Davis Coombe e Vickie Curtis, o filme traz uma importante reflexão sobre o modelo de negócio das mídias sociais e suas consequências. 

Especialistas e profissionais da área de tecnologia, inclusive do Google, Facebook e Twitter, alertam sobre o impacto negativo que as redes sociais podem trazer à sociedade. E como essas big techs se apropriam de informações pessoais de seus usuários para lucrar.

O longa, de aproximadamente uma hora e meia, intercala os depoimentos de diversos ex-executivos da área, como Tristan Harris, cofundador do Center for Humane Technology e ex-especialista em ética de design do Google, Justin Rosenstein, co-criador do botão “Curtir” do Facebook, Tim Kendall, ex-diretor de monetização do Facebook e ex-presidente do Pinterest, entre outros. 

Além disso, conta com as análises críticas de pesquisadores como Jaron Lanier, filósofo da computação e autor do livro “10 argumentos para você deletar suas redes sociais agora” e Shoshana Zuboff, professora de Harvard e autora de “The age of surveillance capitalism”.

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Os depoimentos são ilustrados pela dramatização, por isso, é também chamado de docudrama, onde os integrantes de uma família tradicional norte-americana não conseguem interagir e sofrem com o vício dos filhos adolescentes nas redes sociais. 

E ainda, pela personificação da inteligência artificial para mostrar como funciona a manipulação algorítmica. Esse recurso usado, para muitos críticos com exagero, ajudou a tornar um assunto complexo muito mais atrativo e explicativo para os mais leigos sobre o assunto. 

Os riscos das redes sociais à sociedade

Os dados que apresentam são avassaladores: aumento da ansiedade infantil, de adolescentes com depressão e um aumento da taxa de suicídio nessa mesma faixa etária desde a era da internet. Fala-se da incapacidade emocional e social, que principalmente os jovens têm, de atender às demandas das redes sociais em troca de seus benefícios e de sua gratuidade. “Não evoluímos para receber uma dose de aprovação social a cada cinco minutos. Não fomos feitos para esse tipo de experiência”, analisa Tristan Harris.

Um desafio que pais, educadores e governantes precisam lidar é a falta de uma legislação mais clara e efetiva acerca dos efeitos das mídias sociais, principalmente para os adolescentes, além do próprio fator de dependência que as pessoas criam por essas mídias.

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O vício e a insegurança que as redes geram não são falhas desses projetos. São objetivos predefinidos, peças orquestradas para atingir o objetivo final com que todas essas plataformas foram criadas: “tirar o máximo de tempo possível de nossas vidas”, como afirma Tim Kendall, ex-diretor do Facebook.

O Documentário ainda mostra reflexões importantes sobre a capacidade das redes sociais de gerar e acirrar a polarização política. Segundo Jaron Lanier, o que essas plataformas oferecem às grandes empresas é a possibilidade de mudar gradualmente nossos comportamentos, nossas crenças e até quem somos: não é apenas uma questão psicológica, mas também antropológica.

As redes  impactaram a política recente do mundo de uma forma significativa: campanhas do Obama, organização dos protestos que culminaram na Primavera Árabe, campanha do Trump, Bolsonaro e Brexit, todas passaram pelas redes sociais. , não se pode deixar de pensar que o poder dessas big techs vai muito além de personalizar publicidade ou antecipar nossos desejos, e está cada vez mais perto da capacidade de criá-los.

Controle social

O escritor e filósofo Yuval Harari, em seu livro “Homo Deus”, traz uma importante reflexão sobre o futuro da humanidade. Para o autor, o livre-arbítrio só existe em histórias imaginárias inventadas pelos humanos. Por isso, o que queremos não está livre de influências. 

O livre-arbítrio pode ser influenciado por algoritmos que por saberem tanto sobre nós, tem o potencial de fazer uma predição do que queremos fazer, comprar, comer, para onde vamos viajar, entre outras.

“Isso significa que algoritmos irão me entender melhor do que eu mesmo e prever os meus sentimentos e decisões. E vão tomar decisões por mim ou agirão no meu lugar” –  Yuval Harari

Os benefícios das novas tecnologias

Em contraponto, não podemos deixar de reconhecer os benefícios das novas tecnologias ao nosso dia a dia. Até mesmo as redes sociais que quando usadas com consciência, contribuem para a troca experiências com desconhecidos e aprendizado de coisas novas,  permite que as pessoas mantenham contato com parentes e amigos que moram longe, por exemplo.

Além disso, as inovações tecnológicas têm contribuído muito em todas as áreas da sociedade. Trazendo saúde e bem-estar para pessoas com deficiência física, no desenvolvimento de remédios e vacinas, entre muitos outros benefícios.  

“Não é que a tecnologia em si seja uma ameaça existencial. É a capacidade da tecnologia de trazer à tona o pior da sociedade. E o pior da sociedade é uma ameaça existencial “. – Tristan Harris.